CONFLITOS FUNDIÁRIOS AMEAÇAM 2,2 MIL FAMÍLIAS EM RONDÔNIA

03-02-2012 20:40

 

Vítimas do jaguncismo já são bem mais numerosas em Rondônia, na Amazônia Ocidental: passaram de 325 em 2010 para 3,6 mil no ano passado. Os conflitos fundiários também aumentaram, com despejos e violência, o que prejudica e ameaça diretamente 2,2 mil famílias. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) mapeou 45 novos conflitos. Segundo relatório divulgado pela entidade ligada à Igreja Católica, 27 pessoas estão ameaçadas de morte. O relatório não menciona o total de mortos em choques com pelotões de jagunços travestidos de seguranças em várias regiões do estado, notadamente em Jaru, Buritis e Jacinópolis. Desde 2001, a maioria das mortes não foi esclarecida, entrou no esquecimento e se desconhece a conclusão dos inquéritos policiais.

 
Paralelamente, aumentaram de cinco para 13 as denúncias de situação análoga à escravidão em propriedades rurais que contratam irregulamente 79 trabalhadores para derrubadas de matas, formação de pastagens e outros serviços. O Ministério Público do Trabalho informou na segunda quinzena de janeiro que resgatou 41 vítimas. Para a CPT, a formalização de denúncias melhorou a constatação de vítimas, e da mesma forma verificou-se o real aumento de ameaças, violência e conflitos agrários em Rondônia.
 
Nenhum dos acusados por conflitos agrários recebeu pena de prisão, tampouco teve suas propriedades ou parte delas colocadas à disposição para fins de reforma agrária. A CPT reforça denúncias feitas frequentemente pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP) contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ao longo dos derradeiros dois anos. Segundo a entidade, essa autarquia apoia a polícia em despejos e reintegrações de posse em diversas áreas do estado.
 
Além das listas antigas são agora denunciados: Roberto Demário Caldas, na Fazenda São Joaquim/Mequéns, em Pimenteiras; Manoel Roberto de Almeida Prado, na Fazenda Novo Horizonte, em Vilhena (divisa de RO e MT); José Carlos de Souza Barbeiro, na Fazenda Tapiratinga, em Corumbiara; Francisco Silva Cavalcanti, na Fazenda São Francisco, em Jaci-Paraná; e as empresas Manoel Marchetti Indústria e Comércio de Madeira, em Jaci Paraná; e a Construtora BS Ltda, que presta serviços ao Consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsável pelas obras da Usina de Hidrelétrica Jirau.

 

Concentração de terras
 

 “Com os financiamentos cada vez maiores ao agronegócio desde a gerência de Lula, que chegou chamar latifundiários e usineiros de heróis nacionais, o que vimos nos últimos anos é o aumento da concentração das terras”, lamenta a LCP. Esse movimento de resistência camponesa que atua em Rondônia vê um crescimento da concentração de terras: “Ele é maior do que no período do gerenciamento militar fascista, e Dilma Roussef já deixou claro que o caminho do Brasil é mesmo ser exportador de matéria-prima barata para as grandes potências estrangeiras, entre elas, China, EUA e Europa”, diz ainda a nota.
 
Para a CPT e a LCP, existe atualmente “uma escalada repressiva do Estado contra os camponeses pobres, ribeirinhos, povos indígenas e quilombolas, em que o centro do problema é a luta por manter a posse de suas terras.” “Isso entra diretamente em contradição com os interesses do agronegócio, grandes madeireiras e grandes mineradoras que precisam expulsar o povo das terras para melhor explorá-las”, acrescentam.
 
Ao acusar a presidente de “permitir que se enterre de vez a luta pela terra no País”, a LCP acusa a criminalização das lutas e o aumento do aparato repressivo, com o consequente encorajamento dos bandos armados a serviço do latifúndio. E reitera a sua bandeira de luta “pela mobilização em torno da defesa da terra, combatendo-se a contradição secular que opõe camponeses ao latifúndio e que além de não resolvida, tem aumentado nos últimos anos”.

 

Fonte: https://anovademocracia.com.br/blog/?p=2667