Notícias Internacionais (Indymedia Portugal)

07-04-2011 00:00

 

[Londres] Meio milhão toma ruas contra austeridade neoliberal

No passado dia 26 de Março, cerca de 500 mil pessoas tomaram as ruas de Londres em protesto contra os cortes públicos de 80 mil milhões de libras e contra o elevado desemprego. Tratou-se da maior manifestação realizada na capital do Reino Unido desde 2003, quando os protestos contra a intervenção militar no Iraque reuniram 1 milhão.

A vinda de manifestantes de todo o país fez com as forças da ordem se sentissem na necessidade de encher as ruas de Londres com cerca de .4 mil e 500 polícias. A grande parte dos manifestantes participou na manifestação convocada pelo sindicato TUC, a qual decorreu entre o Embakment e o Hyde Park. Outros grupos optaram pelas ruas do centro de Londres, tendo alguns deles invadido e atacado agências de bancos e lojas de luxo, entre outros símbolos de riqueza e privilégio e lançado bombas de tintas e outros objectos contra os agentes de segurança. Verificaram-se igualmente "sit-ins" (dezenas de pessoas sentadas, de forma a bloquear a via de acesso) à entrada de sedes de multinacionais e empresas suspeitas de evasão fiscal.

214 pessoas foram detidas e 66 ficaram feridas durante os protestos. Entre os 66 feridos, 31 eram agentes da polícia, dos quais 11 tiveram de ser hospitalizados por ferimentos leves.

Galeria

 

 

Norte da Grécia: Exercícios militares de repressão de revoltas, no âmbito da OTAN e do exército europeu

Enviado a 1 Mar 2011, por [field_autor-formatted]

em

De acordo com as queixas dos soldados de vários batalhões da 71ª Brigada Aerotransportada “Pontos”, com sede em Nea Santa Kilkis, Norte da Grécia, entre quinta-feira 3 de Fevereiro e 4 de Fevereiro foram realizados na cidade de Koromilá exercícios militares de repressão de manifestações, sob a supervisão dos chefes civis e militares das Forças Armadas.

As revelações da Rede Livre de Soldados Spartacos - sobre a formação da 71ª Brigada Aerotransportada em tácticas e métodos de repressão de manifestações - descontrolaram o comandante do Batalhão 596 de Argirúpolis. Insultando, ameaçando e aterrorizando os soldados, afirmou: “Somos uma força dirigida pela OTAN. Estamos a ser treinados para reprimir manifestações não na Grécia mas sim noutros países. Amanhã podem nos enviar para o Egipto, para reprimir a revolta. Esse é o nosso papel”.

A seguir, a carta aberta dos soldados da 71 ª Brigada Aerotransportada:

Carta aberta de soldados da 71ª Brigada Aerotransportada

Repudiamos qualquer participação em operações de repressão de manifestações. Basta de mentiras dos oficiais do Estado Maior e do Ministério da Defesa. A formação dos soldados da Brigada Aerotransportada 71, em Kilkis, progride. Ser “boina vermelha” (como se tivéssemos sonhado com ela alguma vez) requer sacrifícios, correr e suar. Como se revelou, neste tipo de formação temos que desempenhar o papel de manifestantes num simulacro de repressão de uma manifestação. Por isso, pediram-nos para não fazermos a barba.

A publicidade e as reclamações sobre este assunto provocaram as primeiras reacções. No quartel, na inspecção da manhã, o capitão informou os soldados da existência da denúncia, passando ao ataque e acusando os autores de falta de rigor e de divulgarem mentiras. Falou de cobardia, exortando os soldados a expressarem-se imediatamente, na reunião dessa manhã. Em poucos segundos mostrou a sua verdadeira face, empregando ameaças de encarceramento e de tribunais militares.

A nossa opinião é semelhante à do resto da população: é uma cobardia esconderem-se atrás dos galões e da hierarquia, separando a vida no quartel da do resto da sociedade, proibindo até a publicação das “arbitrariedades”, que as sentenças judiciais permitiram a todos os uniformizados. Trata-se de resistência, de um direito e de uma obrigação nossa para com o povo grego, dar-lhes conhecimento da conversão do exército numa guarda civil.

Em seguida, disse-nos que estava apoiado e que não tinha medo de nada. Quanto mais ênfase punha no caso mais se notava que estava numa posição difícil.

Como balanço, uma única carta foi suficiente para lhes causar um problema e pôr em causa a nossa participação nesta fantochada, a qual, entre outras coisas, é um insulto à nossa dignidade. Se quisermos protestar, sabemos onde, quando e por que fazê-lo. E isto nunca será um ensaio para um novo e sofisticado tipo de repressão. Em breve enfrentaremos o governo do PASOK- o tal que desmantela e privatiza a Saúde e a Educação, que suspende os direitos laborais e a segurança social, que nos deixa sem trabalho.

Mas o melhor ainda estava para vir com o discurso do comandante. Segundo ele, a Grécia pertence à UE, o exército grego faz parte do Exército Europeu e a partir da Primavera é obrigado a ter dois esquadrões de repressão de manifestações! Esses esquadrões não se destinam a ser utilizados na Grécia, mas para “missões cujo propósito sejam processos de paz”, onde muitas vezes há a necessidade de intervir entre duas “facções em conflito”, como por exemplo, no Kosovo. Trata-se da revelação completa de todo o projecto! Onde estão pois as imprecisões e mentiras de que nos acusam?
São os oficiais e o comandante da 71ª Brigada Aerotransportada, o Estado-Maior General e o ministro da Defesa Nacional que enganam o nosso povo, ao utilizarem mentiras propagandísticas.

- Que facções em guerra são separadas agora pela OTAN, no Afeganistão?
- Desde quando a intervenção da OTAN no Kosovo, onde sérvios e albaneses lhes são hostis, é uma “missão de paz”?
- A OTAN e o Exército Europeu não defendem os interesses dos armadores na Somália?

Rejeitamos o termo “missão de paz”, já que nos pomos do lado do nosso povo, que rejeitou os “bombardeamentos humanitários” da OTAN contra o povo jugoslavo, cujo objectivo era o desmembramento do país e a imposição da soberania da OTAN, dos Estados Unidos e da UE.

Directa ou indirectamente a OTAN e a União Europeia provocam guerras e conflitos entre civis, formando uma série de novos países com novas correlações políticas, sociais e económicas, ao serviço de interesses específicos. Os governos dos países da UE, a administração Bush e a OTAN, armaram, instruíram e incitaram o chamado Exército de “libertação” do Kosovo (UCK), os mesmo a que hoje acusam de contrabando de armas, de drogas, de mulheres e de crimes contra a humanidade.

A OTAN e o Exército Europeu são forças de ocupação, sob o título de “missão de paz” garantem é a estabilidade das novas correlações e dos novos interesses.

Acabemos já com estas histórias.

No Kosovo, Afeganistão, Somália e noutros países, a Grécia não exporta paz, é somente ocupação. É o destino destas missões, descaradamente classistas e que exigem uma nova forma, mais policial.
Com o Tratado de Lisboa, a OTAN foi nomeada a garante da Nova Ordem Mundial, mantendo o direito de interferir nos assuntos internos dos países para reprimir as revoltas sociais causadas pela crise financeira. Porque o seu inimigo não é só o que os militares enfrentam ou os “terroristas”, mas qualquer força social que ameace o status existente.

Contra os manifestantes é necessário mais do que metralhadoras e banhos de sangue (que podem provocar a opinião pública). No início, fazem falta produtos químicos, balas de borracha e cassetetes em número maior ao que a polícia normalmente utiliza. Se a intensidade das explosões sociais o justificar virão os tanques.

As novas doutrinas militares da OTAN e do exército europeu é que são a fonte da nossa preocupação. Para elas o Inimigo, em última instância, é o que põe em perigo o sistema. Uma parte dos funcionários do governo e o próprio primeiro-ministro elevaram a “ameaça nacional” una série de questões como os imigrantes, as greves indeterminadas e as manifestações massivas.

Por que é que deveríamos estar seguros de que os treinos para a repressão das manifestações no âmbito da OTAN e do exército europeu servirão apenas para a Brigada das Balcãs no estrangeiro? (Não que isso nos vá tranquilizar.)

Não deveríamos aprender com a experiência mundial, onde as tropas imperialistas treinadas dos EUA-Espanha-França-Grã-Bretanha, Itália, retornando aos seus países, têm assumido o papel de repressão contra o inimigo interno e de consolidação do ambiente de segurança do regime de autoridade burguesa.

É claro que o poder está a preparar-se, ao introduzir o Exército, ainda que indirectamente e num ambiente intimidatório, através da “operação” repressão. Já o provaram na Grécia, em Dezembro de 2008, tal como na grande greve geral de 5 de Maio de 2010.
Examinando, no entanto, os exemplos mais recentes de países africanos, é óbvio que se o povo o quiser nem o exército os poderá controlar.

Rede de Soldados Livres Spartacos
diktiospartakos.blogspot.com
tradução por E.C.
Fonte: Contra Info

 

 

Sobre a revolta no Egipto

Enviado a 1 Fev 2011, por [field_autor-formatted]

em

Retirado de https://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17345

Hossam el-Hamalawy é um jornalista e blogueiro do site 3arabawy. Mark LeVine, professor da Universidade da Califórnia, conseguiu contactar Hossam por meio do Skype e conseguiu um informe em primeiro mão sobre os eventos que estão ocorrendo no Egito. Hossam destaca o papel que a juventude e o movimento sindical estão desempenhando nos protestos contra a ditadura egípcia e prevê momentos difíceis nas relações com os EUA. “Qualquer governo realmente limpo que chegue ao poder na região, entrará em um conflito aberto com os EUA, porque proporá uma redistribuição racional da riqueza e terminará com o apoio a Israel e a outras ditaduras”.

Mark LeVine – Al- Jazeera

Hossam el-Hamalawy é um jornalista e blogueiro do site 3arabawy. Mark LeVine, professor da Universidade da Califórnia, conseguiu contactar Hossam por meio do Skype e conseguiu um informe em primeiro mão sobre os eventos que estão ocorrendo no Egito.

Por que foi necessária uma revolução na Tunísia para tirar os egípcios das ruas em uma quantidade sem precedentes?

No Egito dizemos que a Tunísia foi mais um catalisador que um instigador, porque as condições objetivas para um levantamento existiam no país e durante os últimos anos a revolta estava no ar. Já tivemos duas mini-intifadas, ou “mini-Tunísia” em 2008. A primeira foi um levantamento em abril de 2008 em Mahalla, seguido por outro em Borollos, no norte do país.

As revoluções não surgem do nada. Não temos mecanicamente uma amanhã no Egito porque ontem ocorreu uma na Tunísia. Não é possível isolar esses protestos dos quatro últimos anos de greves de trabalhadores no Egito ou de eventos internacionais como a intifada al-Aqsa e a invasão do Iraque pelos EUA. A eclosão da intifada al-Aqsa foi especialmente importante porque nos anos 80 e 90 o ativismo nas ruas havia sido efetivamente impedido pelo governo como parte da luta contra insurgentes islâmicos. Só seguiu existindo nos campus universitários ou nas centrais dos partidos. Mas quando estourou a intifada em 2000 e a Al Jazeera começou a transmitir suas imagens, isso inspirou a nossa juventude a tomar as ruas, da mesma maneira que hoje a Tunísia nos inspira.

Como se desenvolvem os protestos?

É muito cedo para dizer como se desenvolveram. É um milagre que continuaram ontem depois da meia noite, apesar do medo e da repressão. A situação chegou a um ponto em que todos estão fartos, seriamente fartos. E mesmo que as forças de segurança consigam aplastar os protestos hoje não poderão aplastar os que ocorrerão na próxima semana, no próximo mês ou, mais adiante, durante este ano. Definitivamente há uma mudança no grau de coragem do povo. O Estado usou a desculpa do combate ao terrorismo nos anos 90 para acabar com todo tipo de dissenso no país, um truque utilizado por todos os governos, incluindo os EUA. Mas uma vez que a oposição formal a um regime passa das armas a protestos massivos, é muito difícil enfrentar esse tipo de dissenso. Pode-se planejar a liquidação de um grupo de terroristas que combate nos canaviais. Mas o que vão fazer diante de milhares de manifestantes nas ruas? Não podem matar a todos. Nem sequer podem garantir que os soldados o façam, que disparem contra os pobres.

Qual a relação entre eventos regionais e locais neste país?

É preciso entender que o regional é local no Egito. No ano de 2000, os protestos não começaram como protestos contra o regime, mas sim contra Israel e em apoio aos palestinos. O mesmo ocorreu com a invasão dos EUA no Iraque três anos depois. Mas uma vez que se sai para as ruas e se enfrenta a violência do regime, a pessoa começa a se fazer perguntas: por que Mubarak envia soldados para enfrentar os manifestantes ao invés de enfrentar Israel? Por que exporta cimento para Israel, que o utiliza na construção de assentamentos, ao invés de ajudar os palestinos. Por que a política é tão brutal conosco quando só tratamos de expressar nossa solidariedade com os palestinos de maneira pacífica? E assim os problemas regionais como Israel e Iraque passaram a ser temas locais. E, em poucos instantes, os manifestantes que cantavam slogans em favor dos palestinos começaram ma fazê-lo contra Mubarak. O momento decisivo em termos de protestos foi em 2004, quando o dissenso se tornou interior.

Na Tunísia, os sindicatos desempenharam um papel crucial na revolução, já que sua ampla e disciplinada organização assegurou que os protestos não fossem sufocados facilmente. Qual o papel do movimento dos trabalhadores do Egito no atual levantamento?

O movimento sindical egípcio foi bastante atacado nos anos oitenta e noventa pela polícia, que utilizou munição de guerra contra grevistas pacíficos em 1989 durante greves nas plantas siderúrgicas e, em 1994, nas greves das fábricas têxteis. Mas, desde dezembro de 2006, nosso país vive continuamente as maiores e mais sustentadas ondas de ações grevistas desde 1946, detonadas por greves na indústria têxtil na cidade de Mahalla, no delta do Nilo, centro da maior força laboral do Oriente Médio, com mais de 28 mil trabalhadores. Começou por temas trabalhistas, mas se estendeu a todos os setores da sociedade com exceção da polícia e das forças armadas.

Como resultado dessas greves, conseguimos obter dois sindicatos independentes, os primeiros de sua classe desde 1957, o dos cobradores de contribuições de bens imóveis, que inclui mais de 40 mil funcionários públicos e o dos técnicos de saúde, mais de 30 mil dos quais lançaram mês passado um sindicato independente daqueles controladas pelo Estado.

Mas é verdade que há uma diferença importante entre nós e a Tunísia. Ainda que fosse uma ditadura, a Tunísia tinha uma federação sindical semi-independente. Mesmo que sua direção colaborasse com o regime, os seus membros eram sindicalistas militantes. De modo que, quando chegou a hora das greves gerais, os sindicatos puderam se somar. Mas aqui no Egito tempos um vazio que pretendemos preencher rapidamente. Os sindicalistas independentes foram alvo de uma caça ás bruxas desde que trataram de se estabelecer; já há processos iniciados contra eles pelos sindicatos estatais e respaldados pelo Estado, mas eles seguem se fortalecendo apesar das continuadas tentativas de silenciá-los.

É certo que, nos últimos dias, a repressão foi dirigida contra os manifestantes nas ruas, que não são necessariamente sindicalistas. Esses protestos reuniram um amplo espectro de egípcios, incluindo filhos e filhas da elite. De modo que temos uma combinação de pobres e jovens das cidades junto com a classe média e os filhos filhas da elite. Penso que Mubarak conseguiu agrupar todos os setores da sociedade com exceção de seu círculo íntimo de cúmplices.

A revolução tunisiana foi descrita como fortemente liderada pela juventude e dependente para seu êxito da tecnologia das redes sociais como Facebook e Twitter. E agora as pessoas se concentram em torno da juventude no Egito como um catalisador importante. Trata-se de uma “intifada juvenil” e ele poderia ocorrer sem o Facebook e outras novas tecnologias midiáticas?

Sim, é uma intifada juvenil na rua. A internet desempenha um papel na difusão da palavra e das imagens do que ocorre no terreno. Não utilizamos a internet para nos organizar. A utilizamos para divulgar o que estamos fazendo nas ruas com a esperança de que outros participem da ação.

Como deve ter ouvido, nos EUA, o apresentador de programas de entrevistas Glenn Beck atacou uma acadêmica, Frances Fox Piven, por um artigo que ela escreveu chamando os desempregados a realizar protestos massivos por postos de trabalho. Ela recebeu inclusive ameaças de morte, algumas de pessoas sem trabalho que parecem mais felizes fantasiando sobre usar uma de suas numerosas armas do que lutando realmente por seus direitos. É surpreendente pensar no papel crucial dos sindicatos no mundo árabe atual, tendo em conta as mais de duas décadas de regimes neoliberais em toda a região, cujo objetivo primordial é destruir a solidariedade da classe trabalhadora. Por que os sindicatos seguiram sendo tão importantes?

Os sindicatos sempre são o remédio mágico contra qualquer ditadura. Olhe a Polônia, a Coréia do Sul, a América Latina ou a Tunísia. Os sindicatos sempre foram úteis para a mobilização das massas. Faz falta uma greve geral para derrotar uma ditadura, e hoje não há nada melhor que um sindicato independente para fazê-lo.

Há um programa ideológico mais amplo por trás dos protestos, ou o objetivo é mesmo livrar-se de Mubarak?

Cada um tem suas razões para sair às ruas, mas eu suponho que se nosso levante tiver êxito e derrubarmos Mubarak aparecerão divisões. Os pobres querem impulsionar a revolução para uma posição muito mais radical, impulsionar a redistribuição radical da riqueza e combater a corrupção, enquanto que os chamados reformistas querem colocar freios, pressionar mais ou menos por mudanças “desde cima” e limitar um pouco os poderes, mas mantendo alguma essência do Estado atual.

Qual é o papel da Irmandade Muçulmana e como influencia o cenário atual o fato de ter permanecido até aqui distante dos atuais protestos?

A Irmandade sofreu divisões desde a eclosão da intifada al-Aqsa. Sua participação no Movimento de Solidariedade à Palestina quando se enfrentou com o regime foi desastrosa. Basicamente, cada vez que seus dirigentes chegam a um compromisso com o regime, especialmente os acólitos do atual guia supremo, desmoralizam seus quadros da base. Conheço pessoalmente vários jovens que abandonaram o grupo. Alguns deles se uniram a outros grupos, outros seguem independentes. A medida que cresce o atual movimento de rua e os militantes da base participam, haverá mais divisões porque a direção superior não pode justificar por que não toma parte desse novo levante.

[N.T. Nesta segunda-feira (31), a Irmandade Muçulmana divulgou um comunicado rejeitando o novo governo e pedindo que prossigam as manifestações para a queda do regime do presidente Hosni Mubarak]

Qual o papel dos EUA neste conflito? Como as pessoas na rua avaliam suas posições?

Mubarak é o segundo maior beneficiário da ajuda externa dos EUA, depois de Israel. Ele é conhecido como o capanga dos EUA na região; é um dos instrumentos da política externa dos EUA, que implementa seu programa de segurança para Israel e assegura o fluxo sem problemas do petróleo enquanto mantem os palestinos confinados. De modo que não é nenhum segredo que esta ditadura goza do respaldo de governos dos EUA desde o primeiro dia, inclusive durante a enganosa retórica em favor da democracia protagonizada por Bush. Por isso, não há surpresa diante das risíveis declarações de Clinton, que mais ou menos defendiam o regime de Mubarak, já que um dos pilares da política externa dos EUA é manter regimes estáveis a custa da liberdade e dos direitos civis.

Não esperamos nada de Obama, a quem com sideramos um grande hipócrita. Mas esperamos que o povo estadunidense – sindicatos, associações de professores, uniões estudantis, grupos de ativistas – se pronunciem em nosso apoio. O que queremos é que o governo dos EUA se mantenha completamente fora do assunto. Não queremos nenhum tipo de apoio, simplesmente que corte imediatamente a ajuda a Mubarak e retire o apoio a ele, e também que se retire de todas as bases do Oriente Médio e deixe de apoiar o Estado de Israel.

Em última instância fará tudo o que for preciso para se proteger. De repente, pode adotar a retórica mais anti-americana que se possa imaginar se isso puder ajudar a salvar sua pele. No final das contas, está comprometido com seus próprios interesses e se avaliar que perderá o apoio dos EUA, se voltará em outra direção. A realidade é que, qualquer governo realmente limpo que chegue ao poder na região, entrará em um conflito aberto com os EUA, porque proporá uma redistribuição racional da riqueza e terminará com o apoio a Israel e a outras ditaduras. De modo que não esperamos nenhuma ajuda dos EUA. Só que nos deixem em paz.

(*) Mark LeVine é professor de história na universidade da Califórnia Irvine e pesquisador visitante sênior no Centro de Estudos do Oriente Médio na Universidade Lund, na Suécia. Seus livros mais recentes são
Heavy Metal Islam (Random House) e Impossible Peace: Israel/Palestine Since 1989 (Zed Books).

Fonte: https://english.aljazeera.net/indepth/features/2011/01/201112792728200271...

Traduzido do inglês para o Rebelión por Germán Leyens

(*) Traduzido do espanhol para a Carta Maior por Marco Aurélio Weissheimer